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sábado, 31 de dezembro de 2011

Receita de Ano Novo

Um novo ano se aproxima e um rio de esperança nos inunda. Ainda bem, né? Assim a gente consegue ir em frente. E tem força. E tem fé.

Quando os relógios badalarem meia-noite e lindos fogos coloridos clarearem o céu, espero que um novo tempo comece para todos nós, com contadores zerados, para que possamos deixar para trás tudo o que foi ruim e caminhar em busca de uma nova etapa de muitas alegrias e realizações.

Feliz Ano Novo para quem acredita e faz dias melhores!


Receita de Ano Novo (Carlos Drummond de Andrade)

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)
 

Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumidas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
 

Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

sábado, 26 de novembro de 2011

Dia de Ação de Graças


Eu adoro sábado. É o dia em que coloco minhas leituras, filmes e seriados em dia, além de aproveitar para dedicar mais tempo à Malu, em que pese eu tenha aula aos finais de semana até março.

Mas esse sábado é especial, sabe? Cá estou eu com um chimarrão recém cevado, a Malu ao meu lado encantada com o seu novo livro “Alice no País das Maravilhas”, recheado de pop ups divertidas, além de ser sonoro (queria um desses para mim, hehehe), e contente, muito contente.

Foram duas semanas complicadas no trabalho, esperando decisões que mudariam a vida de pessoas próximas. A tensão era absurda, parecia que o tempo não passava e ao mesmo tempo as coisas aconteciam tão rapidamente... morei em Porto Alegre durante esses dias (agradecimentos especiais às queridas Joice e Lucia, que me acolheram no seu alegre lar), tentando resolver tudo da melhor maneira possível.

Passei por extremos esses dias. Cada dia era uma nova ideia, uma nova petição, uma nova audiência, incontáveis idas e voltas ao Tribunal de Justiça e Foro Central... noites e noites sem dormir, incansáveis leituras de doutrina e jurisprudência...  fiz tudo, absolutamente tudo o que estava ao meu alcance.

Em alguns momentos questionei os desígnios de Deus e me perguntei se era mesmo necessário passar por toda aquela provação. Algumas vezes quase perdi a fé, mas isso é muito maluco porque, embora parecesse que minha crença estava por um fio, nunca pensei em desistir, tampouco me conformei quando o desembargador, no alto de sua cadeira que quase alcança o céu, tamanha a prepotência, tentou tirar todas as minhas esperanças, insinuando que eu me conformasse, que isso era assim mesmo e não havia o que fazer. Saí daquela sala engolindo toda a minha revolta com parte dos membros do Poder Judiciário, que são pagos por nós para fazerem justiça, mas passam as tardes gargalhando pelos gabinetes e tomando cafezinho.

Certa manhã, num dia de correria, acordei em Lajeado e fui à igreja. Era dia de Ação de Graças. A igreja estava cheia de crianças vestidas como anjos, que saltitavam em um ensaio para uma apresentação à noite. Quando acabei as orações fiquei lá sentada, admirando aquelas crianças encantadoras. O Padre veio ao meu encontro, cumprimentou-me e com a mão no meu ombro, perguntou:

- E essa menina?

Respondi, quase sem voz:

- Preciso de orações para renovar minha fé, Padre...

Ele disse:

- Hoje é dia de Ação de Graças, dia de pedir ao Senhor o que desejamos, e ele nos atenderá.

Depois me abraçou e continuou:

- Eu vou orar contigo hoje, menina. Tudo vai dar certo. Fique tranqüila. Deus te abençoe.

Saí da igreja já conseguindo falar e respirar.

À tarde, quando voltava para casa, resolvi conferir os processos que andavam me tirando o sono, mas não estava esperando nada de extraordinário, já que conheço a justiça e sei que, embora a gente tenha o direito, algumas questões são morosas, e qual foi a minha surpresa quando vi a concessão do pedido que eu havia feito em letras garrafais na tela do computador. Eu não sabia se chorava ou se ria. Imediatamente tratei de avisar a quem interessava. Não tem preço ouvir agradecimentos emocionados e saber que o teu trabalho duro efetivamente dá bons frutos.

Eu ajudei duas famílias, mas, se não fosse uma juíza séria e competente, que tem coragem e enfrenta órgãos superiores para fazer a justiça prevalecer, eu não teria conseguido nada, não nesse momento.

Tenho certeza também que não teria conseguido se não tivesse renovado minha fé no dia de Ação de Graças. Obrigada ao Padre da Igreja Matriz de Lajeado, que me encorajou e ensinou a nunca duvidar dos desígnios de Deus.

Foto de Francis Engers