Eu adoro sábado. É o dia em que coloco minhas leituras,
filmes e seriados em dia, além de aproveitar para dedicar mais tempo à Malu, em
que pese eu tenha aula aos finais de semana até março.
Mas esse sábado é especial, sabe? Cá estou eu com um
chimarrão recém cevado, a Malu ao meu lado encantada com o seu novo livro “Alice no País das Maravilhas”, recheado de pop
ups divertidas, além de ser sonoro (queria um desses para mim, hehehe), e
contente, muito contente.
Foram duas semanas complicadas no trabalho, esperando decisões
que mudariam a vida de pessoas próximas. A tensão era absurda, parecia que o
tempo não passava e ao mesmo tempo as coisas aconteciam tão rapidamente...
morei em Porto Alegre durante esses dias (agradecimentos especiais às queridas
Joice e Lucia, que me acolheram no seu alegre lar), tentando resolver tudo da
melhor maneira possível.
Passei por extremos esses dias. Cada dia era uma nova ideia,
uma nova petição, uma nova audiência, incontáveis idas e voltas ao Tribunal de Justiça e Foro Central... noites e noites sem dormir,
incansáveis leituras de doutrina e jurisprudência... fiz tudo, absolutamente tudo o que estava ao
meu alcance.
Em alguns momentos questionei os desígnios de Deus e me
perguntei se era mesmo necessário passar por toda aquela provação. Algumas
vezes quase perdi a fé, mas isso é muito maluco porque, embora parecesse que minha crença estava por um fio, nunca pensei em desistir, tampouco
me conformei quando o desembargador, no alto de sua cadeira que quase alcança o
céu, tamanha a prepotência, tentou tirar todas as minhas esperanças, insinuando que eu me conformasse,
que isso era assim mesmo e não havia o que fazer. Saí daquela sala engolindo
toda a minha revolta com parte dos membros do Poder Judiciário, que são pagos
por nós para fazerem justiça, mas passam as tardes gargalhando pelos gabinetes
e tomando cafezinho.
Certa manhã, num dia de correria, acordei em Lajeado e fui à
igreja. Era dia de Ação de Graças. A igreja estava cheia de crianças vestidas
como anjos, que saltitavam em um ensaio para uma apresentação à noite. Quando
acabei as orações fiquei lá sentada, admirando aquelas crianças encantadoras. O
Padre veio ao meu encontro, cumprimentou-me e com a mão no meu ombro,
perguntou:
- E essa menina?
Respondi, quase sem voz:
- Preciso de orações para renovar minha fé, Padre...
Ele disse:
- Hoje é dia de Ação de Graças, dia de pedir ao Senhor o que
desejamos, e ele nos atenderá.
Depois me abraçou e continuou:
- Eu vou orar contigo hoje, menina. Tudo vai dar certo.
Fique tranqüila. Deus te abençoe.
Saí da igreja já conseguindo falar e respirar.
À tarde, quando voltava para casa, resolvi conferir
os processos que andavam me tirando o sono, mas não estava esperando nada de extraordinário, já que
conheço a justiça e sei que, embora a gente tenha o direito, algumas questões
são morosas, e qual foi a minha surpresa quando vi a concessão do pedido
que eu havia feito em letras garrafais na tela do computador. Eu não sabia se
chorava ou se ria. Imediatamente tratei de avisar a quem interessava. Não tem
preço ouvir agradecimentos emocionados e saber que o teu trabalho duro
efetivamente dá bons frutos.
Eu ajudei duas famílias, mas, se não fosse uma juíza séria e
competente, que tem coragem e enfrenta órgãos superiores para fazer a justiça
prevalecer, eu não teria conseguido nada, não nesse momento.
Tenho certeza também que não teria conseguido se não tivesse
renovado minha fé no dia de Ação de Graças. Obrigada ao Padre da Igreja Matriz de Lajeado, que me encorajou e ensinou a nunca duvidar dos desígnios de
Deus.
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Foto de Francis Engers |