quarta-feira, 14 de março de 2012

Sempre aparece um J. Pinto Fernandes...

Dia 14 de março é o Dia Nacional da Poesia. Impossível não lembrar dos grandes: Pablo Neruda, Carlos Drummond de Andrade, Castro Alves, Mário Quintana... perdoem-me os demais poetas por não terem sido citados nessas curtas linhas, mas saibam que sua obra traz sentido, leveza, alegria e frescor à vida de todos que têm o prazer de sentir a sua expressão através do ritmo e da palavra cantada.

Tenho um carinho especial por Drummond. Acho que um mineiro sempre me encanta... não se pode olvidar, todavia, que eu tive um José (talvez mais que um...) na minha vida e participei de alguma Quadrilha. E também sempre aparece um "J. Pinto Fernandes"... Transcrevo os meus poemas favoritos no nosso Dia Nacional da Poesia: 


JOSÉ
E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, Você?
Você que é sem nome,
que zomba dos outros,
Você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

E agora, José?
sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio, - e agora?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse,
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja do galope,
você marcha, José!
José, para onde?


QUADRILHA
João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou pra tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história. 



"Quadrilha": Drummond na voz de Drummond:

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